No povoado Taguá, que faz parte do município de Cotegipe, no oeste da Bahia, moradores ribeirinhos pedem socorro ao céu. Com poucas chuvas, eles cantam em cortejo pelas ruas com a expectativa de que o Rio Grande resista à seca. É uma espécie de ritual.
Quase quatro mil ribeirinhos têm visto o nível da água atingir menos 10 centímetros de profundidade em alguns trechos. Quem cuida da medição do nível do rio é o seu Antônio Ferreira Costa. Ele aprendeu o ofício com a mãe há mais de 50 anos e conta que está triste.
“Eu tenho muito sentimento, porque do tempo que sou gente nunca vi o rio do jeito que está aí. Nós bebe dele [sic], nós toma banho dele [sic]. Se secar, nós vamos para onde?”
Até mesmo a navegação está difícil. Em alguns pontos, é possível tocar o fundo do rio com o remo, que tem apenas um metro. Os ribeirinhos contam com a fé para tentar salvar o Rio Grande. Entre cantorias e cortejos, pedem chuva.
Pelo menos três vezes por dia, alguns moradores vão até o Rio Grande, enchem garrafas pets e começam uma cantoria que toma conta das ruas do povoado.
A cantoria é uma oração ao Rio Grande, que além de fornecer alimento para toda a comunidade, também é a única fonte de água da região. O ponto final do cortejo é o cruzeiro que fica em frente à igreja do povoado.
“Molhamos o cruzeiro (com as águas do rio). O restante da água a gente molha a porta da igreja. Quando a gente inicia esse trajeto de penitência, no terceiro e quarto dia sempre chove”, diz Lusimere Batista Lima, coordenadora da Igreja Nossa Senhora Santana.
O Rio Grande tem 580 km de extensão e é o principal afluente do Rio São Francisco, na região oeste da Bahia.
G1Bahia